Primeiro a tua língua molha o meu
coração, num vagar de fera. Estendo
aurículas e ventrículos sobre a mesa, entre
os copos, que desaparecem. Não há mais
ninguém no bar cheio de gente. Abres-me agora os
pulmões, um para cada lado, e sopras. Respiras-
-me. O laser das tuas palavras rasga-me o lobo
frontal do cérebro. A tua boca abre-se e fecha-se,
fecha-se e abre-se, avançando
por dentro da minha cabeça. As minhas cidades
ruem como rios, correndo para o fundo dos teus olhos.
O tempo estilhaça-se no fogo
preso das nossas retinas. O emprego do bar
retira da mesa o nosso passado e arruma-o na vitrine,
ao lado dos exércitos de chumbo.
Entramos um no outro,
abrindo e fechando as pernas
das palavras, estremecendo no suor dos
olhos abraçados, fazendo sexo
com a lava incandescente dessa revolução
imprevista a que damos o nome de amor.
Inês Pedrosa
3 comentários:
Eu ando sempre por cá...
E daqui ninguém me tira :)
(só mesmo a falta de internet, eheh)
E essas palavras simplesmente desvendam tudo aquilo que um ser sente a cada raiar de uma transformação plena pelo outro...
Tudo fica mais belo quando deixamos que tudo seja visto sobre a luz que vem de nós, fazendo com que tudo seja o que é: beleza simples, concreta e absolutamente transcendente...
Um abraço querida :)
Espero que estejam bem esses tempos por Lisboa! Depois a gente se vê ;)
Inês Pedrosa é assim com as palavras!... parece que elas transformam-se em carne... estranho...
ai Lisboa... Lisboa... isso é uma longa história?
Todas as histórias são longas... Apenas dependem das palavras que usamos para elas :)
Pudemos apenas usar uma frase, mas a história permanece enorme...
:) O resto, são histórias...
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