sábado, 30 de agosto de 2008

...eras tu a claridade...



o tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,
como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,
mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar,
que eu amava quando imaginava que amava. era a tua
a tua voz que dizia as palavras da vida. era o teu rosto.
era a tua pele. antes de te conhecer, existias nas árvores
e nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde.
muito longe de mim, dentro de mim, eras tu a claridade.

José Luís Peixoto

"fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido
com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro
do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir
que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde
os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas
não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão
desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós
olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver
sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de
medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto
dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes:
ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:
amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um
oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga."

José Luís Peixoto

καταλλασσω - Reconciliar; Efectuar uma mudança; Transformar. Reconciliar.



Do grego καταλλασσω [katallassô] (Verbo).

Do latim reconciliatione

acto ou efeito de reconciliar;
renovação, restabelecimento de amizade, de boas relações políticas;
confissão religiosa por devoção;
nova consagração de um templo que foi profanado.


... Necessito de me reconciliar com a minha verdade... enfrentá-la.
Alguns escritos dizem que poderei desenterrar a verdade no silêncio... porém este silêncio não pode estar repleto de reflexões ao contrário do que pensava. É necessário observar... ser um vigilante do turbilhão que nos preenche a alma. Vivemos rodeados de fugas que nos arrastam para fora de nós...
Sinto que a todo o momento sou profanada...

E tu?

Nothing to you - Two gallants



Well my kind's been around forever
And I claim to be one of the few
But the lost cause of words walks away with my nerves
'Cause I'm gay as a choir boy for you

You got hair that recalls me of rivers
Runs softly while you dream of you
But your heart is so cold that it shivers
'Cause that I know is I'm nothing to you

And I followed you into the party
That no one invited me to
But alone I made love to my 40
And played make-believe it was you

But I watched you forget your belongings
And belongings you've got quite a few
I filled up your bag with my longings
And searched through this whole, wide city for you

And we'll walk 'neath the street lamps forever
You'll say you remind me of you
It's so damn cliche that it's clever
It's so fucking false, you think that it's true

'Cause I heard that you forgot that you were (a) lover
And lovers you've got one or two
But you can't tell one from the other
Now, mama, now you're nothing to you

And it's down by the riverside (wasting away)
And it's down by the riverside (beating the clay)