quinta-feira, 29 de novembro de 2007

belíssimo




"Agora sei
não estou só
há uma só carne
no que sente comigo
além da carne

solta um outro sentir
além da carne
e nós faz
ser
uma só carne
numa carne só

mais do que sentir
com este corpo
que não consente
um sentir além da carne
que não se quer só

as vezes forço o dizer
violento as palavras
e nenhuma traz a serenidade
de se uma só carne

palavras queria
e todas dizer
sem mais trazer a mim
o só
de uma carne

Queria uma palavra só
conheci todas
e nenhuma tão só
como fiquei
uma só carne

Queria uma só palavra
todas as que conhecia
traziam duplicidade a mais
por isso com esta fiquei,
carne, uma só"

anónimo

sábado, 24 de novembro de 2007

o anjo


O anjo que em meu redor passa e me espia
E cruel me combate, nesse dia
Veio sentar-se ao lado do meu leito
E embalou-se, cantando, no meu peito.

Ele que indeferente olha e me escuta
Sofrer, ou que, feroz comigo luta,
Ele que me entregara à solidão,
Poisava a sua mão na minha mão.

E foi como se tudo se extinguisse,
como se o mundo inteiro se calasse,
E o meu ser liberto enfim florisse,
E um perfeito silêncio me embalasse.

Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

alexandre

Deixa-me escrever... rabiscar as palavras que se perderam no ritmo da língua...

a sala fria, condensada em luto febril...
os corpos quentes suspensos
o silêncio pálido guardado na janela iluminada
as conversas revistas, gastas...
os corpos inertes
os corpos mortos
o choro da porta dá voz à paz funesta
o brincar das crianças lá fora...
o arfar que explode o peito e rebenta os lábios
a vida repleta numa criança...
o teu sorriso Alexandre
o teu olhar...
as tuas lágrimas
as tuas mãos apertando os espinhos da rosa
a tua esperança paciente
o teu perdido olhar
a tua coragem
ressoa no teu peito a brava cavalaria
as tuas lágrimas
o teu rosto lacrimejado
o teu olhar

nunca me vou esquecer do teu olhar
da tua força

do teu encanto...

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Permanece sempre um suspiro esquecido entre os nós dos braços...
guarda-se sempre uma imagem suspensa em seus níveos cabelos...




Dilui-se a essência nesta ausência do ser
nesta permanência do absurdo que se torna tão real... tão concreto...

minha feia

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Inês




Quando me perco de novo neste antigo
Caderno de capa preta de oleado
Que um dia rasguei com fúria e desespero
E que um amigo recolou com amor e paciência

De novo se ergue em minha frente a clara
Parede cal do quarto matinal
Virado para o mar e onde o poente
Se afogueava denso e transparente
E a sonâmbula noite se azulava

Ali o tempo vivido foi tão vivo
Que sempre à própria morte sobrevive
E cada dia julgo que regressa
Seu esplendor de fruto e de promessa

Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

O mito de sisífo

by minha feia

"Este coração, em mim posso senti-lo e decido que ele existe. Este mundo, posso tocá-lo e decido que ele existe. Aí pára toda a minha ciência, o resto é construção."

Albert Camus

domingo, 18 de novembro de 2007

ana pesaro


Solta teu cabelo no prolongamento do nosso olhar
Ténue luz que alcança
o efémero luar
sorri enquanto as almas se beijam
e nos abraços se deleitam
solta tuas finas amarradas
em torno do meu peito prende-as

minha feia

sábado, 17 de novembro de 2007



Sós,

imensamente sós,
caminhamos sem um cruzamento.

Vive-se,
olhando em redor
e procurando uma luz
que indique o caminho
de retorno ao futuro.

Deserto de ecos - António Marques Leal

o vazio permanece sobre a luz da minha cegueira


Como dizer aos meus olhos que se afastem do incêndio que lavra a oriente do teu sangue rasgando a minha fome e me protejam nesta imperfeita madrugada em que as línguas dos homens e dos anjos se confundem

Alice Vieira

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Daniela... simplesmente Daniela

imagem formatada por minha feia

"e quando o vento do Outono leva mais do que as folhas caídas... o que fazer?"

Quando o vento leva mais do que as folhas caídas entrega-lhe as tuas lágrimas e ri-te na fronte da morte porque a saudade não é imortal.
A tua força leva-te além do vento, perto das muralhas em que confinamos a vida...
Tu és selvagem... desafia o destino com teus negros
cabelos e salta essas paredes amuralhadas para o atrevimento da vida... Vive como só tu sabes viver... sempre com um sorriso nos lábios e uma imensa solidão esquecida no peito... deixa-a ir com as folhas envelhecidas... não aguardes...
Quando o vento leva mais do que as folhas caídas... liberta esses teus verdes olhos, filhos de um sonho maior naqueles ramos que abraçam a saudade num azul distante...

a ti te dou estas palavras

minha feia

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Espero-te



Chega o Outono... debaixo da poeira que trazes nos sapatos...
Vem de mansinho... soprou-lhe uma brisa... tropeçando nos raios de luz inunda o palpitar da memória...

As recordações arrepiam o olhar e o peito desmaia nos tons amarelos...
Permito o beijo do sol, que sorrateiramente me rouba um sorriso...

Tudo o que me rodeia suspira de beleza tão saudosa... tão quente... são abraços dessas árvores que se despem na confiança da gente...