quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Inês




Quando me perco de novo neste antigo
Caderno de capa preta de oleado
Que um dia rasguei com fúria e desespero
E que um amigo recolou com amor e paciência

De novo se ergue em minha frente a clara
Parede cal do quarto matinal
Virado para o mar e onde o poente
Se afogueava denso e transparente
E a sonâmbula noite se azulava

Ali o tempo vivido foi tão vivo
Que sempre à própria morte sobrevive
E cada dia julgo que regressa
Seu esplendor de fruto e de promessa

Sophia de Mello Breyner Andresen

Um comentário:

Anônimo disse...

as vezes forço o dizer
violento as palavras
e nenhuma traz a serenidade
de se uma só carne