quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O último habitante




"Rasgo o melancólico lume interior dos insectos
Atravesso a sabedoria das infindáveis areias de sono
Sou o último habitante do lado mitológico das cidades

Por vezes consigo acordar
Sacio a sede com a tua sombra para que nada me persiga
Teço o casulo de cocaína escondo-me no mel da língua
Lembro-me... fomos dois amigos e um cão sem nome
Percorrendo a estelar noite doutros corpos

Mas já me doem as veias quando te chamo
O coração oxidado enjaulou a vontade de te amar
Os dedos largaram profundas auusências sobre o rosto
E os dias são pequenas manchas de cor sem ninguém

Ficou-me este corpo sem tempo fotografado à sombra da casa
Onde a memória se quebra com os objectos e amarelece no papel
Pouco ou nada me lembro de mim

Em tempos escrevi um diário perdido numa mudança de casa
Continuo a monologar com o medo a visão breve destes ossos
Suspensos no fulcro da noite por um fio de sal

Partir de novo seria tudo esquecer
Mesmo a ave que de manhã vem dar asas à boca recente do sonho
Mas decidi ficar aqui a olhar sem paixão o lixo dos espelhos
Onde a vida e os barcos se cobrem de lodo

Pernoito neste corpo magro espero a catástrofe
Basta manter-me imóvel e olhar o que fui na fotografia
Não... não voltarei a suicidar-me
Pelo menos esta noite estou longe de desejar a eternidade"

Al berto, in o medo

Fantástico né?!
Às vezes sinto que as palavras do Al berto esventram-me a alma e sulcam sobre o papel as sombras que me insuflam...

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